O amor é como uma flor…


Rubens Balestro

          Li que as emoções são substâncias sintetizadas em nosso sistema nervoso pelo hipotálamo. Essas substâncias seriam mensuráveis como, por exemplo, num exame de sangue. Saiu, numa reportagem do Fantástico, que se poderia saber se uma pessoa estava apaixonada ou não, verificando a quantidade da substância da paixão numa amostra do sangue, só não se saberia por quem.

            Como funciona a formação das emoções? Li também, em outro lugar, que as imagens geram emoções. Quando recordo, resgato imagens do meu passado e meu hipotálamo faz as emoções correspondentes ao que elas representam: alegria, tristeza, medo, raiva, amor, ódio, etc.

            As palavras também geram imagens. Quando digo árvore, vejo uma árvore. Se leio casa, uma casa me vem à mente. A associação palavra / imagem dá a luz à imaginação, um dispositivo capaz de fazer das imagens um verdadeiro filme com o final que nosso consciente ou inconsciente desejar e, como conseqüência, provocar um rio de emoções.

            Um dia conheci uma moça. Era lindinha, queridinha, bonitinha; tinha um jeitinho bonitinho de falar, de andar, de comer, etc. Guardei um montão de fotos dela na minha memória. Acho que o hipotálamo recebeu algumas imagens e fez algum tipo de poção, pois me sentia estranho, perturbado, com muita vontade de falar dela, sobre ela, com ela. Inventei algumas desculpas, arrumei motivos bobos, e lá estava eu, diante dela, lindinha, bonitinha, amadinha. Era tudo inho e inha. A cada encontro mais imagens entravam. Com certeza fiz alguns filmes “curtas e longas” com ela e dela, onde eu era o produtor, diretor e ator coadjuvante. Assim foi por um tempo, mas daí…

            Outro dia ela disse que tinha algo pra me falar. Ela ia embora. Acho que outro estava dizendo mais inho e inha pra ela do que eu.

            ….se não rega murcha.

          Às vezes, quando achamos que já temos algo, voltamos nossa atenção pra outra coisa que não temos ainda, um carro, por exemplo, e passamos a falar dele, sobre ele. Lá vão imagens pro hipotálamo que faz as emoções correspondentes, mudando nosso vocabulário. Antes se tratava de um carro bonito, lindo, agora é o carrinho, bonitinho, lindinho… E o bem, aquela coisinha lindinha, queridinha, bonitinha, que tinha um jeitinho bonitinho de falar, de andar, de comer? Cadê? Alguns trocam o bem pelo computador, pela internet, pelo jogo de futebol ou por qualquer outra coisa. Basta parar de falar de um e falar muito sobre o outro para o primeiro perder a preferência nas poções do amor. Sei que no início não precisamos nos esforçar pra falar do bem, mas depois de um tempo, se o bem vale a pena, é bom tomar providências para que isso aconteça regularmente, pois, do contrário, o cérebro pode achar que o bem é posse e não se preocupar, dando atenção a novas conquistas, a novos desejos. Do que adianta novas conquistas se perdemos as que temos?

            Regar o amor é continuar com os inhos e inhas. É resgatar da memória os momentos agradáveis, os momentos de lealdade, de solidariedade, de cumplicidade, os momentos tristes e alegres, as brincadeiras. É fazer balanço. É olhar o conteúdo.

É verdade que, se não ganho meus inhos e inhas, fico sem vontade de fazer minha parte. Se fui flor de alguém, já  me senti murchar.

            Já perdi flores. Tenho visto muitas flores murcharem. Disseram-me que se não medito sobre meus erros a tendência será de repeti-los. Estou aprendendo jardinagem!

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A Felicidade, as Lembranças e os Sonhos


Rubens Balestro

 

Algum tempo atrás, ouvindo a Rádio Gaúcha, escutei o Armindo Antônio Ranzolin, parafraseando um poeta, dizer, mais ou menos assim: “A felicidade está onde a colocamos, o problema é que dificilmente a colocamos onde estamos.” É verdade! Costumamos colocá-la no futuro – Serei feliz quando…, ou a colocamos no passado – Era feliz (e nem sabia). Desta maneira, estamos colocando a felicidade nos sonhos ou nas lembranças, contudo, é assim que deve ser? Temos o poder de apressar o futuro ou de resgatar o passado e, desta maneira ser feliz agora?

Meditei algum tempo nas palavras do poeta e arrisquei-me a compor outra frase: “Feliz é aquele que ao virar-se para o lado fica alegre com o que sente.”. Sim, virar-se para o lado, aludindo ao presente, e “sentir” em vez de “ter”, por entender que, embora alguns achem que necessitam ter as coisas para serem felizes, pensar assim é limitar a felicidade, pois a maioria das coisas que podem nos fazer sentir felicidade não pode ser posse.  “Pessoas” não devem ser posse, mas senti-las por perto pode ser fonte de alegria, ainda mais quando nos damos conta de que elas estão ali, do nosso lado, por livre e espontânea vontade. Presenciar um nascer do sol ou o sol poente, igualmente pode nos inundar de felicidade. Observar um céu estrelado ou enluarado, sentir a música que lava a alma, o barulho da natureza que a cada dia, em cada lugar compõe uma nova e bela sinfonia. Sentir perfumes que remexem nosso interior. Sentir a compania de seres agradáveis. Muitas vezes sentimos coisas agradáveis com tanta intensidade que não nos contemos e, querendo agradecer a alguém, dizemos: “Obrigado Pai”. Isso, pra mim, é felicidade, é estar feliz e sem a necessidade de ter.

            Os que esperam algo para serem felizes, jogam a felicidade no futuro, apostando-a na concretização de um sonho. Mas será que necessitamos estar sempre concretizando sonhos para sermos felizes? E se não tivermos sonhos? Estaremos fadados à infelicidade? Percebemos que a felicidade somente acontecerá, neste caso, na concretização deste sonho? Entendemos que, quando ele se concretizar não será mais um sonho e sim realidade, o presente?  A felicidade não está no futuro.

Há os que curtem as lembranças buscando a felicidade no reviver o passado. Trata-se de uma felicidade repetida e efêmera, pois basta voltarmos à realidade para que ela se acabe. A felicidade não está no passado.

Acredito que a maioria das pessoas vive entre estes dois tipos de pseudo-felicidade, pois ao sonhar, imaginar ou lembrar não estão sentindo o presente, logo não se trata da verdadeira felicidade, por isso tanta infelicidade.

E quanto aos sonhos, estou os condenando? Claro que não. Alcançar um sonho é magnífico, ter outros para buscar é o que dá sentido a vida. Tenha os teus sonhos, os grandes e os pequenos também, pois são estes os que mais rapidamente podem tornar-se realidade, tornar-se presente, tornar-se felicidade. Mas não esperes por eles pra ser feliz, porque “ser feliz” está no aqui, no agora, no teu lado.

Vasculha o teu passado buscando as boas lembranças, pois é o que da vida fica, contudo, por mais agradáveis que elas nos sejam, não podemos viver delas ou para elas.

Às vezes, como ultimamente, me pego sem sonhos, ando sem um “Norte” e também não tenho facilidade para recordar de coisas boas. Fico assim impedido de imaginar o futuro ou de reviver o passado, buscando aquela fugaz felicidade, mas posso assegurar de que sinto alegria em muitos momentos, pois percebo as presenças, muitas presenças, possivelmente a de você.

Tenha sonhos, siga em frente, relembre teus momentos de glória, olha para trás, mas enquanto este vai e vem prossegue, tira um tempo, vira-te para o lado e sejas feliz.    

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Coisas que a vida me ensinou


Abaixo alguns pensamentos que elaborei ao percorrer os caminhos que, de uma maneira ou outra, escolhi trilhar.

Rubens Balestro

“Não tentar por temer perder é abdicar da possibilidade de vencer”

Rubens Balestro

“IMPOSSÍVEL  é aquilo que ninguém fez AINDA”

Rubens Balestro

“Na vida existem dois tipos de pessoas: as que fazem  sombra e as que vivem na sombra”

“Inspirado no meu amigo Lovatti”

Rubens Balestro

“Deixar de trilhar o caminho pela busca do  conhecimento é aposentar-se da vida”

Rubens Balestro

“Se não temos o que fazer, tenhamos o que dizer”

Rubens Balestro

“Na vida, às vezes não basta ser, é necessário parecer ser também”

Rubens Balestro

“Ser feliz é, ao olhar para o lado, ficar  contente com o que sente”

Rubens Balestro

“A busca pelo conhecimento necessita trilhar o caminho da  humildade”

“Inspirado na minha amiguinha Ive, de dez anos”

 Rubens Balestro

“O conhecimento não foge, mas quando não utilizado tem a  mania de esconder-se”

Rubens Balestro

“Para ser ultrapassado, basta diminuir o  passo”

Rubens Balestro

“A maioria das coisas que chamamos de defeitos são jeitos. Não aceitá-los é negar as  diferenças”

Rubens Balestro

“Ser ignorante é um direito, persistir na ignorância é opção

“Inspirado em frase de Pedro Bial”

Rubens Balestro

“A busca do profundo conhecimento se faz com uma singela pergunta: Por quê?”

Rubens Balestro

“A vida somente poderá ser vivida entre a partida e  a chegada, aproveite a viagem”

 Rubens Balestro

“Entre poder fazer e fazer o que se pode, a  diferença está na vontade”

Rubens Balestro

“A receita para  o CONSEGUIR é: uma porção de  tentativas com pitadas de reflexão”

“Inspirado em meu amigo Osmar Cani”

Rubens Balestro

“Aquilo que  temos facilidade em ver nos outros, costumamos ter em abundância”

“Inspirado em minha amiga Cristiane Krás Borges”

Rubens Balestro

“As pessoas tem sobre nós apenas o poder que damos à elas”

Rubens Balestro

“O freio do amor é o medo”

“Inspirado em minha amiga Roberta Smiderle”

Rubens Balestro

“Não há vergonha em contornar obstáculos, mas sim quando desistimos diante deles”

Rubens Balestro

“Sábio não é o esperto, mas aquele que sabe como utilizar a esperteza”

Rubens Balestro

“Quando não se tem nada de bom a dizer, o melhor é não dizer nada”

Rubens Balestro

 ” O conhecimento tem validade”

Rubens Balestro

“O errar está tão inerente no aprender que sem o erro não há aprendizado”

Rubens Balestro

“Fisiologicamente falando, a vida consiste numa constante busca pelo equilíbrio que, porém, jamais poderá ser alcançado”.

 Rubens Balestro

“O dificil não é fazer a dor passar, mas sim impedi-la de voltar”.

Rubens Balestro

“Menosprezar a capacidade de entendimento que o paciente possa ter sobre seu problema é comprometer seu tratamento “.

Rubens Balestro

“O segredo do sucesso alicerça-se sobre os pilares da DIFERENÇA e do RESULTADO.”

Rubens Balestro

Como terapeutas, temos a obrigação de tentar livrar o paciente de suas dores e de nós mesmos.

Rubens Balestro

“Só fica em você o que sai de você”

Rubens Balestro

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Devaneios sobre liberdade


Rubens Balestro

         

         

 

 

 

          Liberdade, o que é?

          Difícil definir ou mesmo conceituar.

         O dicionário diz ser um estado, uma condição, uma maneira de ser.

          Minha ideia de liberdade é ter, sem necessariamente usar. É ser, sem necessariamente parecer. É poder, sem necessariamente fazer.

           A liberdade é relativa a algo. Sou livre para…, sou livre de…, sou livre, apenas, parece não existir.

           A dificuldade em se escrever sobre liberdade fica maior quando nos damos conta de que ela, na maioria das vezes, tem limites. Existem leis que a liberdade não nos torna apto a quebrá-las. A lei da gravidade, por exemplo. Além do mais, “minha liberdade” deve findar onde inicia a do meu próximo. São os limites morais. Lutar por liberdade é lutar por ampliação de limites. Quanto maiores forem meus limites mais “liberdade” tenho, porém sempre terei limites. Pensando assim, ampliação dos limites, temos uma ideia mais clara da necessidade de buscá-la ou de nos contentar com a que temos.

           Ao relacionar liberdade com limites percebemos também a necessidade de relacioná-la com espaço. Sou livre porque tenho meu espaço. Não necessito de todo o espaço, mas de um pouco que é relativo, diferenciado para cada pessoa, cada coisa ou estado. Entendendo a liberdade por um espaço, nos damos conta de que para ampliar o nosso espaço ou lutar para conquistar mais liberdade, outro terá de reduzir o seu espaço. Quando reduzimos o nosso espaço alguém ganha mais liberdade.

            Com a liberdade deve estar a responsabilidade, parceria indissociável e proporcional. Quanto maior a liberdade maior deverá ser a responsabilidade. Somos responsável pelo espaço que tomamos. Quem não pode responsabilizar-se por ele deve ter menos espaço, menos liberdade. Somos também responsável pela liberdade que damos e pelo espaço que concedemos.

           Podemos perder a liberdade por não saber usá-la. Podemos perdê-la por não impor limites, dando ou cedendo em demasia.

           Deste ponto de vista, o de dar ou buscar maior espaço, percebemos que liberdade relaciona-se também com o poder, o poder de ter. Quem tem poder necessita, para mantê-lo, que outros tenham menos “espaço”. Espaço não apenas para mover-se, mas também o espaço da expressão, liberdade de exprimir ideias, pensamentos. A expressão pode diminuir o espaço de quem tem o poder. Daí vem a opressão que tenta diminuir a liberdade, o espaço. Chamamos isso de prisão.

            Relacionando liberdade com a sua relatividade, seus limites, seu espaço, com a responsabilidade e poder, então, como definir liberdade de uma forma simples?

            Um juiz, não lembro o nome ou onde, disse: “Tenho toda a liberdade, posso fazer o que quero, desde que dentro destas quatro paredes que são o meu código de leis”.

            Queria ser livre. Livre para errar, para não ir, para não sair, para ser parecido, para não fazer, para ficar quieto, para chorar, para ser feio, para parar, para morrer, para comer.

           Queria ser livre para, quem sabe, não ter de ser.

 

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Marias e Joãos, uma reflexão sobre as diferenças


 

Rubens Balestro

            Sabemos que as mulheres diferem dos homens. Não estou me referindo as diferenças anatômicas, mas sim as diferenças psicológicas, do pensamento. Por que, e até que ponto, são diferentes?

                Estudos mostram que a origem das diferenças que pretendo abordar está no que se chama por PREDOMINÂNCIA DE HEMISFÉRIO. Do que estou falando?  Nosso cérebro encontra-se dividido em dois hemisférios, o direito e o esquerdo. O hemisfério direito, além de comandar o lado esquerdo do corpo possui características como a de não usar palavras, ser intuitivo, usar a imaginação, o sentimento e a síntese, ser aleatório, holístico, orientado à fantasia. Já o hemisfério esquerdo, que comanda o lado direito do corpo, diferencia-se do anterior por responder pela linguagem, o raciocínio lógico, determinados tipos de memória, o cálculo e a análise. Exemplificando a atuação dos dois, podemos dizer que o lado esquerdo do cérebro interpreta literalmente as frases ditas, já o direito percebe a intenção oculta de quem fala. O hemisfério esquerdo percebe sons relacionados como a linguagem verbal e o hemisfério direito percebe músicas e os sons emitidos pelos animais.

            Acontece que testes têm demonstrado que nas Marias, em sua maioria, predomina o hemisfério direito e, na maioria dos Joãos, o esquerdo. Este seria o motivo de as mulheres serem reconhecidamente mais sentimentais, emotivas, perspicazes, intuitivas, sonhadoras e românticas. Já os Joãos teriam, na predominância de seu hemisfério esquerdo, a justificativa de sua notória praticidade na tomada de decisões, baseadas no raciocínio lógico, cálculos e análise.

            Tudo muito lindo, tudo explicado e esclarecido, mas a pergunta continua: Por que, e até que ponto, Marias e Joãos são diferentes? O que faz com que o hemisfério direito predomine nas mulheres e o esquerdo nos homens? Do meu ponto de vista existem duas possibilidades: ou fomos projetados assim pelo nosso Criador para que, no encontro dos dois, a Maria e o João, houvesse a complementação ou isso tem origem cultural. Se a segunda hipótese for a verdadeira deveríamos refletir sobre algumas coisas tais como a maneira como são educadas a maioria de nossas crianças? Digo da educação familiar. Os hemisférios são estimulados pelas nossas vivências. Que práticas culturais poderiam estar estimulando a predominância do hemisfério direito nas mulheres e do esquerdo nos homens?  Poderia ser a tentativa machista de desenvolver na mente feminina a conformidade com a vida puramente doméstica presenteando-a com bonecas, o que acabaria por desenvolver o lado emocional, o lado direito do cérebro?  Que a cultura tem condicionado a mulher quanto a suas perspectivas emancipatórias é fato notório, basta prestar-se atenção nos comerciais que vendem a necessidade da mulher ser bonita, vestir-se bem, usar perfume sedutor, tudo visando a conquista de um provedor. Isso igualmente enfatiza o desenvolvimento mental voltado para o intuitivo, o uso da imaginação, da fantasia, aflorando os sentimentos, coisas típicas de hemisfério direito. No caso dos meninos, por que seus brinquedos são do tipo, bola, carrinho, jogos, bicicleta? Não são brinquedos que, quando utilizados, requerem cálculo de velocidade, espaço e lógica e que acabam estimulando o lado esquerdo do cérebro?

           Sendo assim, a personalidade das Marias seria fruto de sua educação dentro de uma cultura machista de submissão da mulher. O comportamento dos Joãos se deveria igualmente a uma cultura machista que os privilegia do ponto de vista da liberdade e da independência.

           Não sei, de qualquer maneira vale a pena observar os frutos desse desequilíbrio. Por exemplo: uma mulher quando se olha ao espelho tem um olhar de 360 graus. Vira-se, se contorce, tudo para poder perceber todos os detalhes. Evidentemente isto também ocorre em outras circunstâncias. Como as mulheres são observadoras! O homem, por sua vez, provavelmente se dará uma rápida olhada e, sem maiores preocupações, da frente do espelho sairá. Quantas vezes já saí de casa com a blusa virada pelo lado do avesso, com um sapato de cada cor, sem me pentear (quando tinha cabelo), com a parte de trás do casaco presa na cinta da calça ou a calça dentro da meia. Já saí de casa com a blusa do avesso e a calça do abrigo virada para trás, tudo de uma só vez.

           Maravilhosas Marias que tudo vêem, mas que apresentam tanta dificuldade na hora de escolher o que querem. Baixam a prateleira de sapatos para depois irem embora, sem comprar nada, por não conseguirem se decidir, coisa fácil para os Joãos, tão obtusos no olhar.

             Como disse, ainda não cheguei a uma conclusão sobre o porquê das diferenças, mas acho, assim como um grande filósofo já disse, que o bom é trilhar o caminho do meio. Procurar o equilíbrio entre os hemisférios cerebrais é uma necessidade mesmo quando já encontramos aquela Maria ou João que nos completa.

           

 

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À primeira vista


 À primeira vista 

 

Rubens Balestro

 

          Foi andando pelas ruas de Rio Preto que a conheci. Era bonita e estava acompanhada pelo irmão e irmã. Apresentei-me e conversei com eles. Ela foi educada, gentil e simpática. No dia seguinte, pela manhã, lá estava eu novamente, no mesmo lugar onde a encontrei. Voltei à tarde e ela me parecia cada vez mais simpática, mais bonita. Seu jeitinho amável, delicado, estava me cativando. Voltei também no outro dia. Não sei o que estava acontecendo comigo, mas já sonhava com a possibilidade de sair com ela. Falei sobre isso com uma amiga que me achou muito apressado.

          Depois de quatro dias não agüentei mais, convidei-a para almoçar. O dono do estabelecimento comercial onde a conheci tinha ficado responsável por ela e seus irmãos, visto que eram de uma localidade muito pequena e não conheciam a cidade. Eles sempre haviam morado numa fazenda. Tive de falar com ele e pedir seu consentimento para sairmos. Ele ficou um pouco temeroso, pois não me conhecia e só se acalmou quando chamei minha amiga que intercedeu por mim. 

          Nosso encontro foi maravilhoso, nem almoçamos. Ela queria ver tudo. O passeio durou mais de duas horas. Deixei-a em casa e combinei de voltar no outro dia. Assim foi, e no dia seguinte ela estava me esperando, muito feliz. Tamanha era sua felicidade que resolvi dar-lhe um presente, um vestido cor de rosa. Ficou linda nele. Acho que eu estava apaixonado.

          Meu trabalho em Rio Preto era o de ministrar cursos, então eu pensei em convidá-la para assistir uma de minhas aulas. Só que havia um problema, as aulas ocorriam à noite e ficaria muito tarde para levá-la em casa, sendo assim, ela teria de passar a noite comigo e eu não queria que os funcionários do hotel em que eu estava hospedado soubessem.

            Falei com o senhor responsável por ela e, depois de assegurar-lhe que nada de mal aconteceria à sua protegida, ele permitiu que ela passasse a noite comigo. Já, quanto a escondê-la dos funcionários do hotel, foi bem mais difícil, ela nunca tinha entrado num elevador e havia câmeras por todos os lados. Foi trabalhoso, mas valeu a pena, nos divertimos muito. O difícil foi explicar, no dia seguinte, a fronha rasgada no quarto.

           Dias foram passando, noites também. Outra fronha rasgada. Estava chegando à hora de eu voltar para casa. Tinha de fazer algo, sabia de minha responsabilidade dependendo da decisão tomada, mas acho que não saberia mais viver sem ela. Conversei com ela e pedi se gostaria de me acompanhar, de conhecer minha cidade, de viver comigo. Expliquei-lhe das diferenças de região, em especial do clima, bem mais frio. Ela aceitou ir comigo para onde eu fosse. Fiquei muito feliz e fui falar com o senhor responsável por ela. Ele, depois de muitas recomendações, permitiu que ela me acompanhasse.

            Liguei para minha família e amigos avisando que não voltaria sozinho. Todos ficaram curiosos e apreensivos. Providenciei os documentos e a passagem de avião. Chamaram-me de maluco. Não me importavam os comentários, só queria ficar perto dela. Foi assim desde o primeiro instante em que nos conhecemos.

           Vai fazer um ano que estamos vivendo juntos. Meu amor por ela tem crescido na medida em que observo sua dedicação amor e lealdade. Acredito que esse amor, nascido à primeira vista, fará com que eu e minha cadelinha Jane ainda tenhamos muitos momentos felizes pela frente.

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O DIA EM QUE O KLETO ACHOU DINHEIRO


 

Rubens Balestro

Fico feliz de que este despretensioso texto tenha se tornado um livro já lido e trabalhado por professores com centenas de crianças.

Veja também: www.blogdokleto.com

O  DIA EM QUE O KLETO ACHOU DINHEIRO

O  achado

O Kleto era um menino que morava no
interior, numa casa de material que ficava na beira de uma estrada. Ele não era
rico, mas não era pobre também. Bem, era mais para pobre. Não vou dizer qual a
idade dele, só que tinha mais de cinco e menos de treze anos. Um dia, o Kleto
estava na rua, chutando pedra quando o vento lhe trouxe um envelope com alguma
coisa dentro. Ele abriu e encontrou algo que parecia ser dinheiro. Nunca tinha
visto um dinheiro assim. Achou melhor mostrar para alguém.

 A primeira compra

O Seu Manoel, um português, tinha uma padaria perto da casa  do Kleto e foi lá que ele resolveu levar o que achou. Mostrou as três notas  para o Seu Manoel e ele confirmou ser dinheiro, mas de outro país. Disse que,  se ele quisesse usar o dinheiro, teria de trocar por dinheiro brasileiro.

– O senhor troca para mim?

– Sim, mas apenas uma nota, e se você comprar alguma coisa.

– Dá para comprar balas?

– Umas 50, chega?

– Sim, e posso comprar chocolate também?

– Você pode comprar muitas coisas e ainda sobrará troco.

O Kleto comprou 11 chocolates de diferentes tipos, quatro tipos de chicletes, uns
dropes, doces e duas latinhas de refrigerantes. O Seu Manoel colocou tudo numa
sacola de plástico e o Kleto pegou o troco, disse obrigado e foi embora.

 O menino da praça

Depois de andar até uma pracinha, Kleto sentou  num banco embaixo de uma pequena árvore e começou a comer os chocolates. Um  menino que o Kleto achou ser mais pobre que ele ficou parado na sua frente,  olhando. Kleto pensou que aquele menino também queria comer chocolate e, por  isso, abriu a sacola e escolheu um de tamanho médio, de cor de laranja e deu  para ele. O menino pegou, disse obrigado e foi embora comendo o chocolate. Kleto levantou e foi andar mais um pouco.

 A segunda compra

Enquanto Kleto andava pelas ruas da  cidade, teve tempo parapensar em muitas coisas que gostaria de fazer  com o dinheiro que achou. Se desse, poderia ficar rico e comprar muitos  brinquedos como bicicleta, videogame, tênis, além de, é claro, ajudar seus pais. Ao passar por uma banca de revistas, Kleto entrou e interessou-se por um álbum de figurinhas. Mostrou ao dono da banca uma nota de dinheiro e perguntou se dava paracomprar. Ele disse que sim e que deveria levar alguns pacotes de figurinhas também. Kleto concordou e ainda recebeu troco. Ele estava muito feliz.

 Hora de almoçar

Já era quase meio-dia quando o Kleto, por acaso, encontrou sua tia. Ela perguntou o que ele estava fazendo. Ele disse que estava passeando e pediu para ela fazer o favor de avisar sua mãe que ele não iria almoçar em casa (ele fazia isso de vez em quando, indo almoçar
na casa de amigos ou primos, mas sempre avisava). Ela disse que daria o recado, pois morava perto da casa do Kleto. Em seguida, Kleto procurou uma lancheria e perguntou para o dono se o dinheiro que tinha na mão dava para pagar um lanche. O homem disse que sim e que ainda sobraria troco. O Kleto quis um cheeseburger com presunto e ovo e um suco de laranja. Estava muito bom. Ele pagou com a nota e recebeu troco.

O cinema

Kleto queria ir ao cinema, mas achou que não o deixariam entrar. Resolveu ir igual, só para ver o que estava passando. No caminho, encontrou uma mulher que pedia ajuda para as pessoas. Ela tinha um nenê no colo e dizia que ele estava doente. O Kleto deu uma nota
amarela para ela. A senhora ficou muito feliz e disse obrigado. Chegando ao cinema, Kleto ficou com muita vontade de entrar, pois estava passando um filme muito legal, mas o porteiro não permitiu que ele entrasse, pois era muito novo e estava sozinho. Kleto resolveu, então, fazer outra coisa.

A terceira compra

O Kleto passou por uma loja que tinha uma linda carteira preta, por dentro e por fora. Também tinha uma corrente para o pescoço com pontas, iguais as que tinha visto uns meninos da cidade usarem. Como ele sempre quis ter uma carteira preta e uma corrente com pontas, ele foi falar com a moça para saber se o dinheiro que tinha podia pagar. Mostrou duas notas aela e ficou sabendo que era possível comprar e que ainda sobraria troco. Ele comprou a carteira preta e a corrente com pontas.

 A amiga

Kleto estava mais bonito com a corrente com pontas no pescoço e com a carteira preta
no bolso, guardando seu dinheiro. Foi então que ele lembrou de uma amiga chamada Lorena. Ele gostava bastante dela. Resolveu convidá-la para tomar sorvete. Como sabia onde ela morava, fez isso. Chegando à casa de Lorena, fez o convite e ela aceitou.
Foram até à sorveteria e ele pediu para ela esperar um pouquinho, pois foi perguntar para o sorveteiro se o dinheiro que tinha na mão seria possível eles pegarem um pouquinho de cada sabor de sorvete e mais cobertura. O sorveteiro disse que sim e que sobraria
troco. Eles pegaram um pouco de cada sabor e colocaram um pouco de todas as coberturas. Sentaram-se e comeram. Depois, tomaram os refrigerantes que estavam
na sacola, aquela onde guardava o que comprou na padaria. As latinhas estavam um pouco quentes, mas os dois as tomaram mesmo assim. O Kleto mostrou o álbum de figurinhas para Lorena e abriram os pacotinhos. Eles ainda comeram alguns chocolates que ele havia comprado pela manhã. Lorena disse ao Kleto que aquela tinha sido a melhor tarde da sua vida.

 Levando Lorena para casa

Chegara a hora do Kleto levar a Lorena casa. Ele pediu para ela esperar um pouquinho, foi até um táxi e falou com o motorista. Perguntou para ele se com o dinheiro que tinha na mão seriapossível levar a amiga até a casa dela. O motorista, depois de ouvir o endereço,
disse que sim e que sobraria troco. Assim Kleto e Lorena foram para casa dela de táxi.

 Um grande dia

Já estava anoitecendo e Kleto tinha de voltar para sua casa. Ele havia feito muitas coisas. Achou dinheiro, trocou uma nota, comprou 50 balas, 11 chocolates, uns dropes, quatro tipos de chicletes, duas latas de refrigerantes. Além disso, comprou também um álbum, figurinhas, comeu cheeseburger com presunto e ovo e tomou suco de laranja. Também foi ao cinema ver o que estava passando, comprou uma carteira preta e uma corrente com pontas. Saiu com a Lorena, tomou sorvete com ela, levou-a para casa de táxi. No final do dia, ele pensou em como todos aqueles momentos tinham sido bons. Ele ainda tinha duas notas de dinheiro do outro país e bastante troco.

 Será que terminou?

O Kleto estava voltando para casa, caminhando e chutando pedras, quando tropeçou em algo que parecia com a ponta de uma caixa. Kleto resolveu desenterrar. Era uma caixa de madeira, bem velha, não muito grande, mas ele caberia dentro dela se ficasse encolhidinho. Não vou contar o que tinha dentro da caixa, só quando escrever sobre:

O dia em que o Kleto encontrou uma caixa.

 Dados:

Rubens Balestro, profissional da educação e saúde, graduado em Pedagogia e Fisioterapia com  Especialização em Administração Escolar, Supervisão Escolar e Extensão em  Neuropsicopedagogia.

Karen Andriolo
Basso
, é arquiteta e, como todo bom
profissional desta área,  gosta muito de
criar. Desde criança vem desenhando e isso a trouxe às suas principais
atividades atuais: a arquitetura e a ilustração. Até o momento, ilustrou 11
livros já publicados, além de criações para sites, estamparia e publicidade.
Junto aos escritores, visita escolas de Caxias do Sul e região e participa
também de feiras de livros e eventos culturais.

 

 

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Indo ou parando


 

                                                                                         

Rubens Balestro

 

           Ir é verbo, parar também é. Viver é verbo, morrer também é. Enquanto viver dá a idéia de partir, morrer parece indicar chegar, parar. Vivendo é estar indo e morrendo é estar parando, chegando.

            Acho que é mais fácil ir parando, pois estar indo necessita de motivo, objetivo, vontade. Já parando….

          Viver é ir, é mais do que contemplar, é participar da vida. Contemplar parece coisa de quem já esta parando. Viver é sentir. Morrer é apenas olhar, parar, ver o tempo passar.    

          Viver é poder sentir o gosto, sentir o perfume, ouvir os sons da natureza, a voz de quem se ama, a música, sentir o calor, a brisa, sentir vontade de ir.

           Às vezes é bom parar de sentir. Parar de sentir o gosto do que não tem gosto, parar de sentir o fedor, parar de sentir dor, também a dor do desgosto, da desilusão, parar de ouvir barulho, de sentir frio, parar de…, vontade de parar.

          Estar vivo é pouco. Vivo não é verbo, é como estar parado. Não se pode ficar muito tempo assim, a gente pára de verdade.

 – Como vais?

– Vou indo, levando, quase parando.

              

              

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